quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Maricá tem jeito?

Maricá cresce com ranço do passado e não perde a mania de que a vila é dos nativos. Qualquer um pode vir morar, participar das atividades sociais, sentar no bar, conversar, beber, de preferência cerveja ou uma cachacinha. Mas entrar na política ou se candidatar a vereador, aí o negócio muda de figura, os nativos já olham desconfiados, querem saber se fala errado, se tem estudo e se tiver não é confiável.
Esse ranço vem de um passado não muito distante. 
Antigamente os candidatos eram escolhidos a dedo: Fulano da farmácia, sicrano da fazenda, beltrano conhecido do governador e a política girava em torno de famílias tradicionais: os Souzas que não se davam com os Fontouras, os Rangeis amigos dos Cunhas, os Hortas, de narizes em pé, nos seus vai-e-vem entre fazenda, Rio e Maricá.
Por aqui não havia riqueza e sim prestigio, dinheiro público, zona rural, comércio simples e todos, de certa forma, eram iguais socialmente.
Quando alguém de fora, com carro e casa, chegava era bajulado, convidado as cerimônias políticas, religiosas e apadrinhados pelo clero e prefeito. No aniversário da cidade subia no palanque e recebia o titulo de cidadão, honraria hoje banalizada pelos herdeiros dos velhos caciques.
O maior empregador era a prefeitura e os cargos preenchidos pelos parentes e amigos. 
A elite freqüentava o palácio do Ingá, antiga sede do governo fluminense, antes da fusão com o Rio de Janeiro. Esses conseguiam nomeações para eles mesmos, às vezes mais de uma, chegando a quatro sem nunca trabalhar.
Maricá de hoje, ainda é resultado de ontem, as favelas na linha do trem, aberrações irresponsáveis de líderes populistas. Milhares de transferências de votos, atraindo o que de pior existia e por aqui ficavam. Depois, em troca dos favores, mandavam invadir terrenos abandonados e proliferavam casas disformes, vistas ao longo
da rodovia e periferia. Aprovação de loteamentos sem saneamentos, sem infraestruturas e seqüelas mal resolvidas, como Itaipuaçú, Inoã, Boqueirão, sem falar em Jacaroá, Caju e adjacências.
Antigamente se votava por amizade, vereador não tinha salário, poucos sabiam ler e escrever e analfabeto não podia votar. Com eleitorado tão pequeno quase podia ser eleito com apenas um voto, bastava não errar na hora da votação, coisas que poucos sabiam fazer.
As histórias pitorescas com os discursos de vereadores hoje parecem piadas, mas na época eram autênticas como a do edil que solicitou cascalho para a rua “descascaralhada”, o outro com a “faca de dois legumes”, o elogio ao prefeito bem sucedido que “quando pobre andava com pau nas costas” e o candidato ao ver
sua eleitora a convidou “trepar no palanque”.
Hoje nos desviamos da linha do tempo, o eleitor não vota mais por amizade e vereador... Bem ,vereador são os que estão aí, pouco estudo, mas muito dinheiro!
Maricá tem jeito?

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