quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Pedrinho e sua babá!

Se tem alguém mais preguiçosa é a minha enteada, já acorda cansada e a primeira coisa que faz é ligar a televisão, depois deita no sofá e assiste “emetivi”, aquelas bandas malucas e a programação mais doida ainda.
Sem muito que fazer nas férias conseguiu um emprego de babá.
Uma amiga de sua mãe precisou fazer um curso e ela foi substituíla nos cuidados do Pedrinho, um menino esperto de seis anos. O garoto era doido para ter uma babá, todo coleguinha do maternal tinha uma e ele também queria ter assunto para contar.
- Mãe! Quando vem minha babá? Dizia ele, quase todo dia ansioso para conhecer sua baby-sitter.
No dia que ela chegou ele ficou olhando para ela e disse a sua mãe:
- Essa aí que é minha babá?
- É, sim, Pedrinho... Agora deixa mamãe falar com ela, depois a gente conversa! Dona Marília explicou rapidamente os afazeres a Cristiny e logo saiu.
Assim que sua mãe fechou a porta, Pedrinho pegou na mão da babá e disse a ela:
- Gostei de você e vou deixar você me dar banho!
Minha enteada abriu uns olhões e assustada, falou:
Mas ainda não sei dar banho em criança, não!
- Não faz mal – Disse Pedrinho – vou te ensinar.
Pedrinho entrou no box, ficou quietinho em pé e a orientou:
- Agora tira a minha roupa! Cristiny toda envergonhada retirou a roupinha do menino, deixando-o pelado.
- Agora manda eu levantar os braços! Ela mandou.
- Passa bastante sabonete no sovaco... Mamãe diz se não lavar bem fica cheirando mal. Cristiny esfregou bem.
- Agora lava meu bilau! A babá cheia de vergonha refutou: - Há, não, lava você!
- Não! Você é minha babá e tem que lavar, mas com cuidado pra não me machucar!
Com muito custo ela passou sabão nas mãos e ele ordenou:
- Passa bastante sabonete e esfrega bem. Minha mãe diz que bilau também não pode ficar com cheiro ruim!
Cristiny fez tudo que Pedrinho pediu, depois o enxugou, colocou roupinha cheirosa e logo depois ele disse:
- Agora me põe pra “mimi”... Mas você tem que deitar comigo e me abraçar.
Pedrinho adormeceu todo feliz nos braços de sua babá, mesmo sonolento, quando ela tentava se retirar, ele apertava sua mão e não a deixava levantar.
Quando Cristiny saiu, pensou: Se com seis anos esse Pedrinho é tão esperto, imagine quando crescer...!

Maricá tem jeito?

Maricá cresce com ranço do passado e não perde a mania de que a vila é dos nativos. Qualquer um pode vir morar, participar das atividades sociais, sentar no bar, conversar, beber, de preferência cerveja ou uma cachacinha. Mas entrar na política ou se candidatar a vereador, aí o negócio muda de figura, os nativos já olham desconfiados, querem saber se fala errado, se tem estudo e se tiver não é confiável.
Esse ranço vem de um passado não muito distante. 
Antigamente os candidatos eram escolhidos a dedo: Fulano da farmácia, sicrano da fazenda, beltrano conhecido do governador e a política girava em torno de famílias tradicionais: os Souzas que não se davam com os Fontouras, os Rangeis amigos dos Cunhas, os Hortas, de narizes em pé, nos seus vai-e-vem entre fazenda, Rio e Maricá.
Por aqui não havia riqueza e sim prestigio, dinheiro público, zona rural, comércio simples e todos, de certa forma, eram iguais socialmente.
Quando alguém de fora, com carro e casa, chegava era bajulado, convidado as cerimônias políticas, religiosas e apadrinhados pelo clero e prefeito. No aniversário da cidade subia no palanque e recebia o titulo de cidadão, honraria hoje banalizada pelos herdeiros dos velhos caciques.
O maior empregador era a prefeitura e os cargos preenchidos pelos parentes e amigos. 
A elite freqüentava o palácio do Ingá, antiga sede do governo fluminense, antes da fusão com o Rio de Janeiro. Esses conseguiam nomeações para eles mesmos, às vezes mais de uma, chegando a quatro sem nunca trabalhar.
Maricá de hoje, ainda é resultado de ontem, as favelas na linha do trem, aberrações irresponsáveis de líderes populistas. Milhares de transferências de votos, atraindo o que de pior existia e por aqui ficavam. Depois, em troca dos favores, mandavam invadir terrenos abandonados e proliferavam casas disformes, vistas ao longo
da rodovia e periferia. Aprovação de loteamentos sem saneamentos, sem infraestruturas e seqüelas mal resolvidas, como Itaipuaçú, Inoã, Boqueirão, sem falar em Jacaroá, Caju e adjacências.
Antigamente se votava por amizade, vereador não tinha salário, poucos sabiam ler e escrever e analfabeto não podia votar. Com eleitorado tão pequeno quase podia ser eleito com apenas um voto, bastava não errar na hora da votação, coisas que poucos sabiam fazer.
As histórias pitorescas com os discursos de vereadores hoje parecem piadas, mas na época eram autênticas como a do edil que solicitou cascalho para a rua “descascaralhada”, o outro com a “faca de dois legumes”, o elogio ao prefeito bem sucedido que “quando pobre andava com pau nas costas” e o candidato ao ver
sua eleitora a convidou “trepar no palanque”.
Hoje nos desviamos da linha do tempo, o eleitor não vota mais por amizade e vereador... Bem ,vereador são os que estão aí, pouco estudo, mas muito dinheiro!
Maricá tem jeito?